Insegurança alimentar na Europa

Atravessamos tempos difíceis no Brasil, sim, verdade! Mas, vamos olhar um pouco para fora do nosso quintal e entender o que está acontecendo na Europa hoje, para que sirva de reflexão, e quem sabe, oriente para que não ocorra o mesmo por aqui.

Não é segredo para ninguém que o Brasil é grande produtor agropecuarista mundial, ao passo que responde a uma das legislações mais rígidas do planeta quanto à preservação ambiental. Também já é sabido que a Europa não se cansa de interferir no setor citado, atacando e buscando criar cada vez mais empecilhos para a produção.

Pois bem, chega ao tom irônico, mas, amigo leitor, estamos apenas narrando fatos: o setor produtivo europeu alerta para intensa saída de agricultores da atividade e agravamento da insegurança alimentar.

Já quase sem áreas preservadas, a Europa é a maior emissora de gases poluentes do planeta, sem políticas adequadas ao seu próprio território e cuidando quase que literalmente da grama do vizinho, que insistem em tratar como colônia, o velho continente enfrenta uma crise alimentar, tendo em vista que o Estado vem baixando normativas arbitrárias goela abaixo dos agricultores de lá, prejudicando e até mesmo impedindo que o trabalho continue, razão que vem ensejando diversos protestos.

O setor produtivo europeu alerta para intensa saída de agricultores da atividade e agravamento da insegurança alimentar

É importante ressaltar que, semelhantemente ao que muitas vezes ocorre no Brasil, a classe produtiva europeia não foi devidamente consultada, não foram realizados estudos verificando o impacto gerado pelas novas normativas propostas. A não inclusão dos principais afetados na discussão está ocasionando revoltas e protestos já ocorridos na Holanda, Itália, Polônia e França.

Cenas temidas de prateleiras vazias, supermercados e centros de distribuição desabastecidos estão se tornando cada vez mais comuns. É certo que há que se trabalhar em prol do equilíbrio ambiental, mas ao deixar de produzir alimentos que são essenciais para nossa existência, não viveremos para ver esse meio ambiente preservado! Cabe bom-senso.

É um exagero colocar sobre as costas dos produtores, brasileiros ou europeus, todo o peso e a responsabilidade pela emissão de gases ou por qualquer idealização alienada quanto ao meio ambiente. Essa precisa ser uma pauta de todos, muito bem alinhada especialmente com os órgãos públicos que devem realizar seu respectivo papel de maneira eficaz.

É preciso ponderar que a sociedade funciona em cadeia de produção, desde os estudos técnicos, a terra de onde são retirados minérios base para produção de tantas substâncias, a agricultura, a pecuária, o setor de transporte, construção, logística, combustíveis, rodovias, mercados e comportamento do consumidor. Exigir que somente o produtor se ajuste, ou dê conta de tudo isso sozinho beira o ridículo. E não custa rememorar, trata-se do elo é o elo menos protegido dessa corrente, o mais suscetível a toda forma de incertezas, desde climáticas até políticas e legislativas.

Muitos homens e mulheres do campo estão abandonando a atividade na Europa, com o discurso mais triste e honesto de que não há como continuar com o trabalho. Assim como no Brasil, muitos dependem de crédito, rolam dívidas para seguir produzindo e com cada vez mais alterações que prejudicam e chegam a inviabilizar o prosseguimento da atividade.

Não se pode deixar de mencionar, de mesa dentro de gabinete, nunca brotou a comida que estava no seu prato hoje, mas já saiu muito texto dificultando que ela fosse plantada.

Celeiro do mundo, vocação para o agro, que o Brasil não se deixe nunca mais ser colônia de exploração. Não podemos permitir que países que se quer estão dando conta da terra deles venham tentar comandar as nossas!

Ana Lacerda é advogada do escritório Advocacia Lacerda e escreve exclusivamente nesta coluna às quartas-feiras. E-mail: analacerda@advocacialacerda.com. Site: www.advocacialacerda.com